terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Águas Lindas



Que este ano novo,
início de uma nova década,
sejo pleno de alegria, saúde,
felicidade e realizações.

E que seja prazeiroso,
lindo e maravilhoso
como estas águas límpidas,
diáfanas, cheias de luz
e muita vida

Alvorada no Leblon




Não existe nada melhor
do que amanhecer o dia
em boa companhia
na praia do Leblon

Quase Indecente





O planeta gira, o sol desce
sobe o morro dois irmãos
e, num céu quase indecente
explodem multicores, cores belas
iluminando nossas mentes
cores vivas, feixes de luz
passo cores noutra tela
na qual meu cérebro traduz
às vezes só, noutras não,
girando no céu da minha boca
minha fêmea num chupão
tem coisa mais gostosa?
este pôr-do-sol escandaloso
gira um cigarro na roda
fim de tarde no leblon

Quase nada pode ser tão assim





Era cedo, mas Ricardo já estava de volta. Simone não esperava por isso e assim, resolveram sair pra jantar fora. Desceram pela Ataulfo de Paiva e entraram num restaurante novo, cozinha italiana. Chovia e fazia frio. Pediram um vinho suave e umas bruschettas.


– Simone, minha querida – disse, segurando sua mão entre as dele –, vamos procurar um lugar legal pra passar as férias? – olhando-a nos olhos castanhos claro.
– Ora, ora, que idéia maravilhosa! – exclamou a moça enquanto sorvia um gole do vinho. Pensou no Vale Nevado, no Chile.


Neste momento, uma mulher loura e alta – aparentando ter uns trinta anos – entrou no restaurante. Usava uma jaqueta de couro respingada de chuva sobre um bustiê amarelo, deixando à mostra boa parte dos seios fartos. Ricardo se esforçou para não acompanhá-la com os olhos. Era quase impossível. Simone era muito ciumenta. Talvez fosse melhor tê-lo feito.


Num gesto casual, ela, a loura, retirou uma AK47 de dentro da saia amarelo-ocre que pairava um palmo acima dos joelhos. Simone sentiu um forte aperto na mão: imediatamente olhou para Ricardo: seu coração disparou ao perceber o terror estampado nos olhos verdes do namorado. A loura da jaqueta de couro girou o corpo num movimento gracioso e preciso. No meio da sala, quase cheia de fregueses àquela hora da noite, os caroços de chumbo cuspidos em sequencia pela máquina estouraram os corpos de quem estava de pé, enquanto outros tentavam se esquivar abaixando instintivamente a cabeça. Ricardo foi atingido por meia dúzia de tiros antes que pudesse se abaixar também. Simone teve o corpo perfurado em várias partes e morreram ali mesmo, sobre os pratos de bruschettas. O vinho misturado ao sangue quente. A loura continuou a girar e disparar suas balas aceleradas em todas as direções. Os garçons caíam com as bandejas na mão, os pratos ainda fumegantes se espatifavam no chão; e o gerente ficou com o braço separado do tronco, segurando o telefone. Quando teve certeza de que não sobrara ninguém vivo a loura sorriu. À sua volta, alguns dos corpos ensaguentados ainda se debatiam na tentativa inútil de escapar da morte certa.


Então ela parou. Girou o corpo com elegância e se dirigiu à porta.


Com cuidado para não pisar com as botas de couro preto em cima dos corpos que se estiravam pelo chão de madeira ela saiu. Do lado de fora, o trânsito arrastado estava infernal. Um enorme caminhão mal encostado na lateral da pista impedia o fluxo dos carros e ônibus que se apertavam no espaço restante da rua.


A bela mulher se dirigiu a porta do caminhão e subiu pra dentro da cabine vermelha. Alguns motoristas buzinavam indignados com o despropósito do caminhão parado a larga distância da calçada. Então ela foi até a parte de trás do enorme veículo, abriu uma janela central no meio das portas e, sentada numa cadeira acoplada a uma metralhadora moderníssima, pressionou com graça e beleza o gatilho. Os carros logo atrás tiveram seus vidros estilhaçados e os passageiros e motoristas morreram antes mesmo de escutar o estampido dos projéteis que vararam toda a avenida que se estendia atrás da loura. Nisso o caminhão começou a se mover, pois, ao volante, uma morena, também de vinte e tantos anos, acelerou e ultrapassou o sinal vermelho.


Várias pessoas que atravessavam a rua, já em correria, alertadas pelos grandes estampidos e os estrondosos ruídos de carros que se chocavam ou freavam bruscamente, foram atropeladas e tiveram seus troncos e membros esmagados pelo enorme caminhão prateado de cabine vermelha.


Mais adiante, uma viatura policial saiu de uma transversal e parou atravessada à frente da pista, bloqueando-a. Na certa, os que estavam nas janelas dos edifícios presenciando a terrível cena, ou mesmo os que ficaram ao lado nas calçadas e não foram atingidos, haviam chamado a polícia. Saltaram dois homens com escopetas que dispararam de encontro ao caminhão. No entanto a morena acionou uma proteção metálica que subiu pela frente do caminhão em alta velocidade. Por baixo dos pára-choques duas ponteiras de canhonetes de grosso calibre dispararam vários projéteis. O primeiro a atingir a viatura transformou-a numa grande bola de fogo que se ergueu dois metros acima do solo e ainda atingiu um casal de idosos que caminhavam apressados na calçada oposta, tentando sair da zona de destruição. Os dois policiais de azul foram igualmente atingidos por tirambaços enormes e desapareceram no ar como bonecos de pano despedaçados. Alguns fiapos balançavam no ar e, à medida que se molhavam na chuva fina, caiam sobre o asfalto avermelhado, sujo de óleo.


O caminhão continuou a avançar, então dobrou na Afrânio de Melo Franco e desceu em direção à Lagoa. Nisso, um helicóptero ruidoso apareceu no céu daquela noite chuvosa do Leblon. Em frente à décima quarta delegacia de polícia o caminhão parou, e da sua lateral esquerda escotilhas se abriram e bazucas apontadas em direção ao prédio da delegacia fizeram fogo. Os projéteis atingiram as paredes cinzas do prédio que explodiu em chamas. De todos os cantos pessoas corriam apavoradas ante o enorme caminhão prateado de cabine vermelha. Os cilindros metálicos como foguetes em altíssima velocidade continuaram a ser lançados e destruir o prédio da delegacia.
O helicóptero desceu até o nível do quinto andar de um prédio na esquina, parou no ar, e dois policiais na lateral da aeronave – vestindo uniformes negros – dispararam em direção à cabine do caminhão. No teto da caçamba metálica uma parte retrátil escorregou na horizontal e duas peças de artilharia antiaérea foram ativadas detonando o objeto voador. Em poucos segundos a aeronave preta descia rodopiando e soltando um rolo de fumaça preta, atingida pelas enormes cargas metálicas. Ao cair explodiu, e destruiu o que restava do prédio em ruínas da delegacia. De todos os lados, em todas as direções, as pessoas corriam em desespero tentando se afastar do caminhão prateado. A loura cuidava para que nem todas conseguissem.


O grande veículo tomou a direção do túnel Rebouças. Pelo caminho, na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, de sua posição na traseira, a linda mulher ia descarregando uma saraivada ininterrupta de balas. Uma fila de carros desgovernados, alguns trepando por cima das calçadas, outros em posição transversa se chocavam e se estendiam parcialmente destruídos, numa desarrumação estranha. Todos mortos, inclusive os que caminhavam na calçada. A loura sorriu.


Ao passarem pela Hípica a morena pisou no freio e deu uma parada. Suas pernas esguias e torneadas. Da lateral prateada as bazucas detonaram meia-dúzia de esnobes que cavalgando saltavam pequenos obstáculos de madeira listrada, trotando ou em galope – montados em enormes e bem-tratados cavalos. Suas roupas justas, à moda inglesa, se encheram do sangue dos animais que em desordenada sequencia iam sendo atingidos e se despedaçavam. Os quepes, azuis escuro, se espalharam sobre a areia salpicada de sangue e se misturaram aos restos de pessoas e animais.


A morena sorriu. Continuou então seu trajeto e entrou no longo túnel que, passando sob o morro do Corcovado, liga a zona-sul ao centro e às saídas da cidade.


O caminhão prateado de cabine vermelha nunca mais foi avistado.


Dizem, mas não se sabe ao certo, que entrou e desapareceu; talvez em alguma passagem secreta, no interior do túnel sombrio.

Poesia do Corpo de Mel













Quero que você venha comigo,
vou te levar pra ver o que é bom.
você sabe que eu te amo?
aposto minha coleção de
caixas de fósforo que não, mas
venha assim mesmo, do jeito que
está agora, se não a gente perde a hora
a hora do que é bom.

Imagético Literário


Analítica Cultural